Quase todo mundo conhece alguém com a rotina corrida, mas que não perde a pelada de domingo. Será que há riscos em ser atleta de fim semana?

Algumas vantagens do exercício físico de final da semana são: prevenir doenças investindo pouco tempo para se exercitar e praticar a atividade junto com os amigos. Mas também há prejuízos, como ter maior risco de lesões e não alcançar o condicionamento físico adequado.

Quem são os atletas de fim de semana

O atleta de fim de semana geralmente prioriza diversas atividades nos dias úteis, de forma consciente ou não, e deixa os exercícios físicos para o sábado e/ou domingo. Muitos aproveitam a atividade física para descarregar o estresse acumulado durante a semana, bem como suprimir o remorso de passar dias contínuos vivendo como sedentários.

Embora a expressão seja popular, a prevalência dessa prática é baixa: certa de 1 a 3%, segundo Victor Matsudo e José Guedes, pesquisadores no campo da Aptidão Física. As modalidades mais comuns são jogar bola, pedalar, nadar e correr. Mas certas atividades que não se enquadram num esporte, como fazer a manutenção da casa, também fazem parte do grupo de pessoas “fisicamente ativas” com maior incidência de lesões.

Eles se exercitam por pelo menos 150 minutos em nível moderado ou ao menos em 75 minutos, com atividade intensa. Repare que esses são os parâmetros mínimos para que essa atividade seja significativa. Assim, muitos atletas de fim de semana são insuficientemente ativos, isto é, não alcançam esses valores mínimos na sua prática física.

Então este é o agravo: além de não alcançarem uma faixa de condicionamento, eles concentram os exercícios no final de semana, o que traz dados preocupantes, como oito vezes mais riscos de desenvolver cardiopatias. Apesar disso, os exercícios isolados dos finais de semana também têm seu valor.

Benefícios do exercício físico

Mesmo praticadas de uma maneira espaçada, essas atividades podem reduzir os fatores de risco para o câncer, gerando risco 18% menor, além de reduzirem em 30% o risco de mortalidade. O exercício físico ainda promove outras vantagens ao praticante, de acordo com Páblius Braga, médico do esporte, tais como:

  • regulação da pressão arterial;
  • controle do nível de açúcar no sangue;
  • melhora da higiene do sono;
  • aumento da disposição para as atividades do dia a dia;
  • gasto calórico e perda de gordura corporal;
  • adequação do metabolismo.

Por serem vistas como distração, as pedaladas do final de semana passaram a serem praticadas com mais entusiasmo. Isso pode justificar o sucesso desse tipo de exercício. Mas há o outro lado da moeda: essa falta de compromisso resulta num aquecimento mal realizado, falta de compromisso em manter a boa forma e negligência quanto aos equipamentos de proteção individual.

Por outro lado, exercitar-se de maneira mais equilibrada durante a semana é uma estratégia superior. Para esses praticantes, o termo correto é “pessoa regularmente ativa”. A meia hora diária de atividade física moderada para adultos de 18 a 64 anos, como preconizam as diretrizes americanas, é o tipo de prática que promove todos esses benefícios, sem ressalvas. Enquanto os exercícios de finais de semana comprovadamente trazem riscos à saúde — o que pode até suplantar os prós do exercício físico.

Principais riscos dos exercícios de final de semana

Uma vez que o estímulo acontece em poucos dias no intervalo semanal, dificilmente o atleta de fim de semana consegue aumentar sua força muscular e outras variáveis de aptidão física. E é justamente a aptidão física que o protege de lesões e outras doenças. Além disso, os pontos positivos desse exercícios de final de semana nem sempre têm respaldo científico.

Vários estudos randomizados asseguram que atividade física regular em curtos períodos de tempo melhoram a capacidade cardiopulmonar, a adiposidade, etc. Um exemplo disso é o Treino Intervalado de Alta Intensidade (HIIT). Já os 15 a 60 min de exercícios num sábado ou domingo, acumulados por meses, não garantem esses mesmos resultados.

A empolgação da partida de futebol pode fazer o atleta chutar a bola com mais força do que deveria, a corrida mais intensa sobrecarrega o coração e todas as atividades, em geral, demandam boa alimentação e hidratação rotineiras, não só no final da semana. Porém é nesse período que a turma se encontra para o churrasco. Dificilmente as pessoas querem uma dieta balanceada nos dias de descanso.

Quais os impactos e como combatê-los

A literatura nacional não explora as principais lesões do atleta de fim de semana. Estudos internacionais apontam quedas, acidentes com motocross e colisões variadas como acometimentos comuns, mas como culturalmente o esportes são diferentes, o padrão de lesões também é. Por isso, como referência, selecionamos algumas das lesões mais recorrentes no Brasil, inclusive em atletas amadores.

Tornozelo

O entorse de tornozelo é uma das lesões musculoesqueléticas com alta incidência no esporte. De um modo geral, o percentual estimado para os entorses de tornozelo é de cerca 25%, todavia, em algumas modalidades, por exemplo, vôlei, basquete e handebol, esse percentual pode chegar a 50% de todas as lesões.

Ombro

Aproximadamente 40 a 50% das lesões de ombro nos esportes, nas três últimas décadas, têm sido por traumas articulares, na articulação acromioclavicular. Esse tipo de acometimento possui seis graus de severidade, sendo que a partir do grau 2, o tratamento pode ser cirúrgico caso ela se torne recorrente.

Lesões do manguito rotador

Manguito rotador é um conjunto de músculos do ombro. As lesões de manguito inclusive são bastante frequentes nos atletas de elite, não só nos de final de semana. O divertido “racha” de domingo, embora possa causar mais estiramentos nos membros inferiores, também pode gerar essas lesões musculares no ombro.

Síndrome da Banda Iliotibial

Essa lesão, também chamada de “Joelho do Corredor”, pode acometer quem faz caminhada só nos finais de semana, assim como andar de bicicleta. A banda iliotibial é uma faixa de tecido conjuntivo que sai da pelve, uma de cada lado, e vai até os membros inferiores. Sem um alongamento e um aquecimento apropriado, essa rigidez aumenta a sobrecarga no fêmur gerando dores incapacitantes no joelho.

Traumas na face também podem ter uma certa frequência nessa população. Segundo um estudo turco feito em 2015 com 1007 participantes, 98 deles tiveram trauma orofacial decorrentes de exercício físico do final de semana. E muitos deles já utilizavam protetores bucais.

Amenizando os impactos

Além do preparo pré e durante exercício, com aquecimentos e reposição hídrica, investir na recuperação do corpo pode ajudar. Então procure repousar e/ou alongar a musculatura trabalhada, fazer uma autoliberação miofascial com rolinho de espuma depois da atividade e ter uma boa noite de sono.

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